Posso ser cristão e participar de grupos RedPill, Incel e MGTOW?

João Fonseca
5 min readApr 29, 2023

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Cresce na internet páginas que supostamente ensinam os homens a serem “machos alfa” e “antiotários”. Esses movimentos se valem principalmente do momento atual da sociedade onde homens e mulheres travam uma guerra dos sexos e surgem trazendo uma aparentemente fácil solução para o problema: não tocar em mulher. Muitas dessas linhas, as principais delas identificadas como Redpill, Incel e MGTOW, tem ganhado seguidores constantemente. Alguns desses, inclusive, confessionalmente cristãos. Mas qual o erro destes movimentos e por que crentes não podem aderir a essas filosofias?

Antes de tudo, precisamos afirmar com veemência que o ser cristão não é somente crer na existência de Jesus Cristo. Crer em Jesus deve vir acompanhado do seguir os Seus ensinamentos guardados e confessados pela religião cristã ao longo dos séculos. Então, ser cristão é seguir Jesus em toda a Sua verdade. Seguir Jesus implica diretamente em aceitar suas repostas para todos os nossos questionamentos e aplicar essas respostas às nossas vidas. Isso faz com que haja praticamente uma impossibilidade, diria eu, uma incompatibilidade, entre o ser cristão e conceitos estabelecidos por esses grupos. Mais claramente, ou você é uma coisa ou outra. Os dois, definitivamente, não dá!

Veja que no conceito Redpill, ou pílula vermelha, inspirados pelo filme Matrix onde o ator principal toma uma pílula vermelha e passa a ter consciência da realidade enquanto os demais vivem presos a um sistema, os homens possuem consciência do mundo à sua volta e compreendem que as mulheres são as verdadeiras vilãs da sociedade usando seus corpos atrás de privilégios. Essas mulheres não passam de interesseiras e aproveitadoras e os homens devem ter o cuidado para não se deixar ser seduzidos e usados pelas mesmas.

Já os Incel, grupo autointitulado de “celibatários involuntários”, culpam as mulheres por não conseguirem ter relações sexuais e endossam violência contra qualquer grupo sexualmente ativo. Esse grupo age mais na escuridão por conta de uma filosofia mais agressiva.

No grupo dos MGTOW: sigla para “man going their own way” (em português, “homens seguindo o seu próprio caminho”), acredita-se que a sociedade deve romper com as mulheres porque, segundo eles, o feminismo tornou as mulheres perigosas.

Bem, minha ideia aqui não é proporcionar uma discussão sobre esses grupos, mas orientar aos irmãos em Cristo que tais ensinamentos não podem jamais servir de norte para o comportamento de homens cristãos. Primeiro, como dito acima, pela incompatibilidade filosófica entre o cristianismo e essas filosofias. Sim, o cristianismo é uma filosofia de vida e como toda filosofia possui respostas para questões diversas da humanidade. O conjunto de crenças cristãs não é somente respostas para questões sobre de onde viemos e para onde vamos; ou se há ou não um Criador de todas as coisas; se Jesus existiu ou não. Ser cristão é confessar que Deus existe e que Jesus é seu Filho, mas de modo que essa confissão promova uma grande transformação em nosso ser e consequentemente gere frutos externos afetando diretamente nossa moral e ética. Se há um Criador, esse Deus estabelece a definição de família. Portanto, esse Deus nos diz o propósito do sexo. E para esse mesmo Deus, os problemas conjugais são resolvidos com arrependimento e mudança de mente e não com “fim das relações”. Ele nos ensina o certo e o errado sobre o comportamento de homens e mulheres e não a promoção de uma guerra e separação promovida por tais grupos.

Além deste argumento, poderia me utilizar do conceito etimológico do termo profeta. Mas o que tem a ver uma coisa com a outra? É preciso ressaltar que o termo profeta não é de uso exclusivo da religião cristã. A palavra em português Profeta origina-se da palavra grega προφήτης (prophétes), seu significado vem de advogar ou discursar em público. Todas as religiões possuem profetas. Todo aquele que defende uma causa filosófica é um profeta. E existem os falsos profetas, que são homens que afirmam possuir uma revelação da verdade sem que de fato tenham conhecimento dessa verdade. Nem sempre o termo está relacionado a religião, mas são profetas. São falsos, mas são profetas. Ensinam, mas seus ensinos são corrompidos.

O apóstolo Paulo escrevendo à Timóteo orientou sobre os falsos profetas que surgiriam após a sua morte. Jesus ensina abertamente sobre falsos profetas e ordenou que seus ouvintes deveriam acautelar-se dos mesmos e seus ensinos fraudulentos. Grande parte do Novo Testamento é composto por uma batalha de profetas verdadeiros contra os falsos profetas que estavam se infiltrando na Igreja Primitiva. Esses falsos profetas fariam afirmações abertamente enganosas e outros inseririam suas proposições de forma dissimulada. Dissimulado é aquilo que é quase imperceptível, que se apresenta de forma sútil. Alguns desses falsos profetas negariam a deidade de Jesus. Outros, questionariam a veracidade da religião cristã. Mas um grupo que ganhava notoriedade naquele período ensinava justamente que o “casamento era algo ruim”. E o apostolo Paulo acusa um problema nessa narrativa.

Vejamos que todo aquele que visa separar o que Deus uniu é um falso profeta. Deus uniu homem e mulher desde a criação. Os dois são uma só carne quando unidos em matrimônio e o fim dessa união é a procriação para manutenção da raça humana — gerando a família que é a base do Estado. Logicamente, todo movimento que ataca essa concepção é baseada numa doutrina anticristã e, por conseguinte, provinda do anticristo.

Perceba que a família têm sido atacada por todos os lados. Não bastasse movimentos machistas e feministas, surge os que se dizem nem de um nem de outro, mas simpatizantes com esses grupos.

Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm a consciência cauterizada, que proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos com gratidão pelos que creem e conhecem a verdade. Pois tudo o que Deus criou é bom, e, se recebido com gratidão, nada é recusável, porque é santificado pela palavra de Deus e pela oração — [1 Timóteo 4:1–5]

Paulo descreve, se referindo tanto ao casamento quanto a alimentos, que Deus havia criado tais coisas para serem recebidas com gratidão pelos que creem e conhecem a verdade. Parece que grupos que proíbem certos alimentos e atacam a família representam interesses divinos e estão corretos em suas narrativas, mas equivocam-se os que os veem por essa perspectiva. Alguns apostatarão da fé por obedecerem espíritos enganadores e a ensinos de demônios. Outros, no entanto, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm a consciência cauterizada. Ou seja, dos que não sabem o que dizem. Não raciocinam. Se acham inteligentes, mas são tolos, incapazes de ver além de suas próprias motivações.

A mulher é nossa auxiliadora. Ela foi gerada à imagem de Deus tanto quanto os homens. Se ambos os sexos parecem perdidos de seus propósitos iniciais, não é o ódio que resolverá a situação: mas o retorno às origens. O conhecimento completo de Deus.

Fique longe destes!

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João Fonseca

Cristão, Reformado, leitor e escritor em formação, escrevo sobre Teologia Bíblica e Sistemática.